Voto Eletrônico, Voto Seguro?

terça-feira, setembro 19

Urnas Eletrônicas - confiáveis ou não?

Por Davi Castiel Menda, matemático de Gravataí (RS)

“O que importa não é quem vence, e sim quem conta os votos” – Joseph Stalin

Antes que você, prezado eleitor brasileiro, tente me desqualificar, gostaria de lhe lembrar de que, em 1982, quando você talvez nem conhecesse o vocábulo computador (ou quiçá tivesse nascido), eu já tivera três deles e, indignado por outros brasileiros não poderem desfrutar daquele aparelhinho que prometia ser um dos maiores avanços tecnológicos da humanidade, eu, com dois outros amigos, instalamos uma fábrica de computadores. Veja bem, Fábrica, e não uma montadorazinha de fundo de quintal. E um computador que deu o que falar na época. Portanto eleitor brasileiro – de computadores, eu entendo!

Antes que você, prezado eleitor brasileiro, tente me desqualificar, gostaria que acessasse o Google, digitando meu nome completo, e você vai verificar que meus conhecimentos matemáticos e estatísticos são reconhecidos nacionalmente. Portanto eleitor brasileiro – de matemática, eu entendo!

Antes que você, prezado eleitor brasileiro, tente me desqualificar, gostaria que lesse trechos de dois artigos abaixo, publicados em Zero Hora:

14.11.85 – Apuração paralela – Enquanto os computadores do TRE estiverem trabalhando no resultado das eleições, a 111a. Junta Eleitoral já terá o resultado das 270 mesas que a constituem. Isto porque a Junta contará com a ajuda de um computador e de uma programação feita por empresa especializada.

A bem da verdade, gostaria de lhe informar que a empresa especializada era de minha propriedade e a programação pessoalmente desenvolvida por mim (a cessão do micro e do software foi totalmente graciosa).

19.11.86 – Microcomputador é o sucesso da 111a. Zona – Uma economia de tempo de 40 minutos em cada urna apurada é o resultado da experiência que deu certo já no segundo ano consecutivo, na junta apuradora da 111a. Zona: a utilização de um microcomputador, cortesia do secretário da Junta, Davi Castiel Menda. ..... No entanto, Davi Castiel, a convite do presidente da Junta Apuradora, Juiz Jorge Perrone, sofisticou o serviço da Secretaria, através do computador. Etc. etc. etc.
Portanto prezado eleitor brasileiro – de apuração de eleições, eu entendo!

Mas o assunto é “Urnas Eletrônicas”. Afinal, pode-se confiar nelas ou não? Comece lendo um trecho de artigo publicado por Ipojuca Pontes em 29.08.2006:

“Por sua vez, o leitor Rodolfo Hazelman, advogado em São Paulo, capital, ficou estupefato quando viu numa reportagem do Jornal da Band, um empresário de Guarulhos comprovar, a partir de dados fornecidos pelo próprio TRE, a ocorrência de fraudes nas urnas eletrônicas, na última eleição municipal daquela cidade. Ele acha o fato da maior gravidade, visto que, no Brasil, as urnas eletrônicas são vendidas como à prova de fraude - quando, de fato, não são”!

Já o leitor de nome Márcio, mais audacioso, identifica a irregularidade dos números das pesquisas em favor do candidato-presidente como uma espécie de preparação psicossocial para contestar o futuro resultado das urnas eletrônicas fraudadas. Para dar credibilidade a sua argumentação, Márcio informa, depois de transcrever substanciosa aula sobre urna eletrônica, que a única possibilidade de se garantir a integridade das urnas é o acoplamento de uma impressora dentro do aparelho, que por sinal já existe, mas que, "por proibição de Nelson Jobim (ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral), não deverá ser usada para imprimir os votos" comprobatórios.

Na aula técnica transcrita, feita pelo especialista Carlos Tebecherani, é assinalado que se o programa (software) da contabilidade dos votos for alterado para que desvie somente 1 voto em branco (ou nulo) por urna, para um determinado candidato ou legenda partidária, só em São Paulo, por exemplo, cerca de 85 mil votos poderiam ser "remanejados". Sobre a "inauditabilidade" das urnas eletrônicas, uma eterna preocupação do falecido engenheiro Leonel de Moura Brizola, o especialista Tebecherani - apoiado em análises de professores e cientistas dos mais diversos centros de ensinos nacionais e internacionais - considera que os seus programas "são facilmente passíveis de alteração", sendo a própria "urna passível de ataque externo sem que o lacre que a encerra seja rompido".
Continuando este despretensioso artigo, cito trechos do escritor, editor, pensador e intelectual José Stelle (que na sua modéstia se auto-intitula tão somente aspirante a political philosopher) em e-mails a mim dirigidos, e antecipadamente peço-lhe perdão por dar ciência aos que os lêem, sem saber da sua concordância ou não em editá-los. Se eu não os divulgasse, estaria pensando e agindo egoisticamente no meu bem próprio, sem considerar aos interesses alheios.

“Mas devemos levar em conta que a fraude eleitoral pode causar distúrbios. O PT não vai simplesmente aceitar ser alijado do poder. Eles pensam ter a deusa HISTÓRIA do seu lado, o que justificaria tudo. E como disse Stalin: “O que importa não é quem vence, e sim quem conta os votos”.

Esta última frase é genial, e não sei se o mérito deva ser dado ao autor, Stalin, ou ao Stelle (afinal, são quase homônimos) que a garimpou! Mas prossegue Stelle:

“Não vou por ibopes, e sim pela lei natural, pela sensibilidade, e pela razão. E leio as entrelinhas das conversas com parentes e outros no Brasil, por telefone ou quando visito. O tom de voz, as respostas descuidadas, as projeções da Síndrome de Estocolmo, o que Ayn Rand denominou “a sanção da vítima” - tudo isso mostra o efeito da desinformação petista. Isso não ocorre só com eles, mas no país todo. Além disso, o Lula não banca na classe média; a base dele está na classe baixa, que é a maior. Uma clínica de bairro que salva uma criança, ou dispensa um remédio grátis, vale mais que um quarteirão da burguesia, que já é socialista de certo modo, quando não de verdade. Classe média e alta é sobremesa; come se tiver”.

Para concluir, resumo a minha opinião em simples constatações:

- os maiores conglomerados do mundo, os bancos que giram com fortunas imensuráveis, as empresas aéreas, a Nasa que lida com um orçamento bilionário, e até o Pentágono, que teoricamente deveriam operar com os softwares mais indevassáveis, ainda hoje sofrem ataques permanentes de crackers (termo usado para designar quem quebra um sistema de segurança, de forma ilegal ou sem ética – o termo foi criado em 1985 pelos hackers em defesa contra o uso jornalístico do termo hacker). Se a sua memória não é curta, prezado eleitor brasileiro, deve se lembrar de recente episódio no Senado – invasão do painel de votação - que inclusive originou a renúncia do todo poderoso Senador Antonio Carlos Magalhães.

- o questionamento, analisando a situação com a frieza e imparcialidade que o assunto requer, não é a urna propriamente dita - não conheço sua sistemática interna e nem vem ao caso conhecê-la. O problema é o depois: o day after. É a manipulação (termo que pode – e na verdade é o que pretendo - produzir interpretação ambivalente) que sofre o processo quando os dados são totalizados e passam a ser digitados manualmente. É o ponto fraco, o calcanhar de Aquiles. Morreu o controle. Foi-se a garantia. Acabou a confiança – o processo passa a ser humano e todos nós sabemos que nestas condições a falibilidade se diz presente.

- quais os motivos das grandes potências, com inegável superioridade sobre nós, tanto em hardware como em software, até hoje não utilizarem semelhante sistema?

Lamento. Como brasileiro e programador, gostaria de acreditar na lisura e na infalibilidade do sistema, mas quem afirma que as urnas eletrônicas são à prova de fraude, provoca risos na comunidade ligada à informática – e não são poucos.